segunda-feira, 18 de julho de 2016

O novo jugo


"Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós..." (Atos 15:28)

A bíblia pode ser um livro difícil. Digo isso porque milênios depois, ela continua sendo alvo de inúmeros debates. Isso porque a bíblia é um livro comunitário. A própria ideia de ler a bíblia sozinho, interpretar sozinho e chegar a conclusões sozinho é muito nova. Não errada, apenas nova.
As escrituras sempre foram lidas e interpretadas em grupo, desde antes de Cristo. A bíblia é um livro aberto. Quando Deus disse que os judeus deveriam guardar o sábado e descansar nesse dia, é óbvio que inúmeras questões se levantariam a partir disso. O que é descanso? Quando Deus disse que deveríamos amar o nosso próximo, mais perguntas surgiram. Quem é o próximo?
Bom, é aí que começa uma enxurrada de opiniões e interpretações. Os rabinos eram chamados para liderar tudo isso. Eles divergiam, debatiam e tinham seguidores. Um certo rabino poderia interpretar, por exemplo, que o significado de descanso era um, outro rabino, via de outra forma. Um dizia sua opinião sobre o divórcio, o outro discordava. Isso era bem comum.
Porque Deus falou, e o resto é comentário.
Quando alguém seguia um certo rabino, ou aceitava as suas convicções teológicas, dizia-se que essa pessoa aceitava o seu jugo. Era uma forma de dizer: “Eu acredito que essa é a visão mais próxima do que Deus disse nas Escrituras”. Essa lista de proibições, permissões e interpretações da Torá constituíam-se como o jugo. Houve até um rabino que disse que o seu jugo era suave.
Isso é bem interessante porque essas convicções eram passadas de rabino para rabino. De forma que era bem raro um deles pregar algo completamente novo. Mas quando isso eventualmente acontecia, era necessário que ele passasse pela aprovação de dois mestres influentes, estes lhe impunham as mãos e o transmitiam autoridade. Jesus foi um deles. Ele passou pelo batismo de João Batista, e ouviu o “manda ver, filhão” de Deus do céu enquanto isso. Por isso, falava como quem tinha autoridade.
Quando você falava algo a respeito da Torá que tinha consistência, o líder espiritual olhava para você e dizia: “Parabéns, você cumpriu a Torá”. Caso contrário, ele diria que você estava a abolindo. Mas se você estivesse em linha com o texto, dizia-se que lhe foram dadas as chaves do Reino dos céus. Foi isso que Jesus deu aos discípulos quando os deu poder de ligar e desligar coisas nos céus e na terra. Ligar era proibir, desligar era permitir (Flávio Josefo sabe explicar isso melhor que eu).
O ponto é: Era isso que a igreja primitiva estava fazendo. O cristianismo começou a se espalhar e agora eles precisavam definir parâmetros. Eram gentios, judeus e diferentes culturas ligadas a um único homem: Jesus Cristo. Eles acreditavam que Ele era o messias prometido.
Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós.
Eu amo essa frase. Eu imagino algum discípulo se levantando e dizendo: “Espere aí, Jesus nos deu autoridade para resolver isso! ” Era algo novo surgindo dentro deles, eu não sei se eles sabiam explicar completamente, mas havia algo acontecendo. Eles se sentaram em conjunto e após horas e horas de discussão, chegam diante do povo e dão o parecer deles e do Espírito Santo, como se este estivesse sentado conversando com eles no meio do debate.
Alguns podem se assustar com a linguagem, posso imaginar que sim. Os apóstolos, aqueles que andaram com o Cristo, estão decidindo algo importantíssimo na história da igreja e o máximo que podem dizer é que “pareceu bem”? É o que eu mais amo nisso tudo. Eles não alegam que tinham uma resposta absoluta de Deus. Dizem que sentiram uma direção do Espírito Santo, mas não levam isso às últimas instâncias. Eles são sensíveis. Eles reconhecem a importância daquele momento. Eles assumem responsabilidade ao mesmo tempo que alegam uma forte orientação do Espírito de Deus. Eles são humildes. Afinal, eles estavam descobrindo esse novo jugo. E ao que parece, era ele de fato suave.
Precisamos mais disso. O que seria de nós se usássemos mais essa expressão? O que seria de nós se em cada decisão disséssemos: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”?
A verdade é que a bíblia é um livro extremamente atual. E o Espírito de Deus não parou de dar orientações a respeito desse livro. É por isso que você nunca vai esgotar uma passagem. Sempre vai haver algo novo. Deus falou ontem, está falando hoje. E enquanto Ele fala, precisamos estar prontos para pintar o quadro. A bíblia começa com Deus separando as trevas da luz, e o resto da bíblia é sobre ele continuando a separar as trevas da luz.
Muitas vezes lutaremos com o texto. Leremos e releremos sem conseguir decifrar muito bem. Os rabinos tinham uma analogia impressionante sobre isso. Eles usavam a passagem de Jacó lutando com o anjo, em Gênesis 32. Ele luta com o anjo, se cansa, machuca a coxa, sente dor e sai mancando.
Pois quando luta-se com o texto, sai-se mancando.
Alguns não saem mancando porque não lutaram com texto. Mas os que estão mancando tiveram uma experiência com o Deus vivo.
Porque Deus falou. E cada frase é um diamante de milhares de faces.

1 comentários:

  1. Concordo, a palavra de Deus é fonte contínua de orientações. A palavra traz a paz que nos guia. "Que a paz de Cristo seja o juiz em seus corações, visto que vocês foram chamados a viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos." Colossenses 3:15

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