domingo, 5 de junho de 2016

Um denominador comum


“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”

Eu lembro que escrevi essa frase em meu caderno e eu olhava para ela todos os dias. Existia algo que me parecia certo nessa frase, mas eu não sabia dizer o porquê. Como é que a verdade liberta? Eu conseguia entender como a verdade te torna mais experiente, educado... mas, livre? O que a liberdade tem com isso?
Então, continuei confundindo essa frase com toda uma bagagem religiosa de histórias de anjos e de vida após a morte ou qualquer coisa que faça as pessoas se sentirem melhores. Mas olhe para mim. Eu sou uma pessoa boa. E sem precisar de todas essas superstições e dogmas.
Essa última parte foi extremamente importante para que eu chegasse até aqui: A ideia de que havia boas pessoas e más pessoas, e que eu era uma das boas pessoas. É óbvio que eu sabia que às vezes pessoas boas fazem coisas ruins e vice-versa. Mas eu estava convencida de que existe um certo nível de mal que apenas uma pessoa má poderia cometer, que existia uma linha divisória que só alguém fundamentalmente diferente de mim poderia cruzar. Quando eu ouvia sobre acontecimentos hediondos, eu estava claramente ouvindo sobre atos cometidos por pessoas que estavam do outro lado dessa linha.
A medida em que me permiti aprofundar no cristianismo, percebi que ele se tratava de mostrar ao mundo uma verdade objetiva. Essa era a sua proposta fundamental.
E como eu escrevi neste post, ninguém acorda dizendo: “hoje eu vou fazer uma coisa terrível e estou bem com isso”. Manipulamos, reajustamos, redefinimos. A única maneira de o mal atuar é se travestindo de algo que nem é tão ruim assim.
Lembro que me deparei com algumas fotos de Auschwitz e comecei a olhar cada detalhe. Acho que era um retiro de trabalhadores. Nas fotos eu podia vê-los sorrindo e relaxando em espreguiçadeiras. Eram oficiais, chefes de campo de concentração, supervisores da câmara de gás.
Enquanto eu olhava para aquela frase no meu caderno, eu teria pensado em mim mesma como uma pessoa fundamentalmente diferente de todas elas. Até que avancei ao ponto de perceber que no fim das contas, não havia diferença ontológica alguma. A diferença não passa de histórias que contamos a nós mesmos sobre o que está acontecendo em segundo plano. Depende do número de mentiras que nos permitimos acreditar.
A diferença, portanto, entre pessoas que aceitariam trabalhar em Auschwitz e as que não aceitariam não é de forma alguma uma questão de diferença entre pessoas inerentemente boas ou más. É apenas uma questão de quem poderia ver a verdade em meio a uma enorme pressão para se comprar uma mentira.
Sem Deus e sem a verdade objetiva somos marinheiros sem uma bússola tentando confiar no instinto para navegar em águas turbulentas. Pode funcionar por algum tempo, mas isso nos deixa vulneráveis às legiões que tentam nos orientar para fora do curso. Se não sabemos a verdade sobre coisas inerentes a nossa existência, ou para onde estamos indo, nos encontramos em um terreno movediço. E quanto mais nos afastamos da verdade, mais nos tornamos escravos de uma falsa sensação de controle.
Eu me encontrei totalmente confrontada pelo cristianismo, pois diferente de qualquer outra religião, ele nos colocou no mesmo patamar. No livro de Romanos, Paulo diz que Deus encerrou todos debaixo da desobediência para com todos usar de misericórdia. Não é incrível como isso define toda minha jornada até aqui?
Isso é difícil de aceitar. Principalmente quando vivemos uma boa vida moral. Mas somos todos humanos, e isso pode implicar na premissa de que estamos todos com problemas. Sim, você pode ser tão problemático quanto o seu vizinho drogado e nunca será tão honesto quanto ele.
Deus me encerrou debaixo da desobediência juntamente com os funcionários de Auschwitz para sobre nós despejar misericórdia igualmente. Para que não haja mais méritos próprios. Para que o único caminho fosse Jesus. Precisamos de Jesus igualmente, porque fomos igualmente encerrados. Esse é um dos motivos pelos quais a graça tem tudo a ver com quem dá e nada a ver com quem recebe.
Você pode criar um bom discurso em frente a um tribunal com o objetivo de ser inocentado e escapar do julgamento em sociedade. Mas Deus, como aquele Pai na parábola do filho pródigo, vai apenas ignorar seu discurso sobre dignidade (pois ele é falho e ilógico, afinal. Quem é filho por dignidade?) e interrompe-lo com um beijo e uma bela de uma festa.
Eu lembro de quando comecei a me convencer intelectualmente da narrativa de um design inteligente, mas eu simplesmente não podia me deixar envolver emocionalmente. Lembro de olhar o mundo e ver Deus em volta e através dele, e então parar e só ver uma fila de supermercado. É trágico.
Mas todas essas memórias me trazem exatamente até aqui. As emoções que se alastraram dentro de mim fizeram efeito no fim das contas. E eu entendo agora, para a minha satisfação e alívio, que tudo isso não era apenas uma reação química no meu cérebro, sua fonte final era a minha alma eterna, que se sentia perturbada e deslocada. Não poderia ser diferente, ela não estava em casa.
Se você está procurando honestamente a verdade, é certo que você irá encontrá-la. E quando encontrá-la, abandonando toda falsa sensação de controle que desde sempre cultivou, se dará conta de que pela primeira vez na sua vida, você está livre.

“Pois isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade”. (1 Tm 2:3-4)

1 comentários:

© Harmonia Poliforme, AllRightsReserved.

Designed by ScreenWritersArena