“Então, Pul, rei da Assíria invadiu a terra...”
“Então Tiglate-Pileser veio e deportou as pessoas...”
“Salmanaser, rei da Assíria, marchou contra Samaria e a
sitiou...”
- Trechos de 2 Reis 15 e 18
Invadidos.
Deportados.
Sitiados.
Invadir é quando você levanta um exército, marcha para
outro país e o toma usando de força e violência.
Deportar é quando você captura habitantes do país que você
invadiu e forçosamente os remove das suas casas, empregos, famílias, terras e, em
seguida, os leva para longe.
Sitiar é quando você cerca a cidade com o seu exército e
separa a cidade das suas fontes de água e comida, de forma que as pessoas
fiquem famintas, com sede, sofrendo e morrendo até que elas desistam e se
rendam.
Os assírios, com outras palavras, eram maus. Desagradáveis,
brutais, violentos, opressivos e faziam a vida dos israelitas miserável. Ano
após ano.
É justamente durante essa época da história que surge um homem
chamado Jonas. Jonas era uma israelita. E, de acordo com essa história, o Deus
de Jonas o manda à grande cidade de Nínive para pregar àquele povo.
E Nínive ficava na... Assíria.
Assíria? Nosso pior inimigo? Esses monstros que fizeram da
vida do nosso povo um inferno tantas vezes? Você quer que eu vá para a cidade
da besta e faça algo bom para eles? Cada uma.
Jonas não quer nem saber e se dirige ao porto mais próximo,
salta em um navio, e vai para a direção exatamente oposta a Nínive.
Claro que ele faz isso.
Você faria também.
Bom, essa história é contada focando na desobediência de
Jonas na primeira parte e na segunda parte acaba com a seguinte lição de moral:
“Viu o que acontece quando não fazemos o que Deus manda?”
Mas como você imagina que os israelitas ao ouvirem isso
reagiram? Eles odiavam os assírios. Será que eles enfatizaram a obediência ou
aplaudiram Jonas?
Então, ele fica no barco, uma tempestade vem, e rola uma
discussão na tripulação sobre a causa da tempestade, e eles decidem que Jonas é
o problema e o jogam no mar. Ele é engolido por um peixe, e lá ele ora a Deus e
o peixe o vomita, o vomita em Nínive. Os ninivitas são fantasticamente
receptivos à mensagem e, em seguida, a história termina com Jonas tão deprimido
que ele quer se matar.
Tem tanta coisa aqui. Por onde eu começo?
Ok, vamos começar pelo ponto que você supõe que uma
história de israelitas deve começar categoricamente simples, fazendo a difereça
entre o bom e o mau, o certo e errado.
Mas o israelita nessa história, aquele que supostamente
segue a Deus, corre na direção oposta a Deus. A palavra usada é fugir. Jonas
foge. Em seguida, ele acaba em um barco de marinheiros pagãos que oram.
E enquanto eles estão orando para a tempestade parar, Jonas
não ora, ele dorme.
Os marinheiros passam por um processo até descobrir qual
era o problema, sendo que Jonas sabia o tempo todo que ele era o problema.
E então, quando ele finalmente chega a Nínive depois de
resistir a Deus várias vezes, esses monstros dos assírios estão tão abertos
para a mensagem de Deus que o rei ordena que até os animais sejam cobertos de
saco.
Esses sacos eram o que você usava enquanto clamava a Deus,
ciente dos seus pecados, e pedindo misericórdia. O rei ordena que todos se
arrependam e vistam os sacos, incluindo os animais!
Estamos acostumados com um mundo onde vemos as coisas de
forma dualista. As pessoas boas e as más, nós e eles.
Mas nessa história, as categorias são todas misturadas e
bagunçadas. O israelita, supostamente justo, é, na verdade, preguiçoso e
arrogante. Enquanto os pagãos perversos são completamente receptivos à mensagem
de Deus para eles.
E então, depois de Jonas ver tudo que aconteceu com os
ninivitas, a mudança milagrosa no coração deles, ele está tão chateado que quer
morrer.
E ele diz a Deus: Eu sabia que tu eras um Deus
misericordioso e compassivo, muito paciente e cheio de amor...
E então, ele acrescenta: Agora, Senhor, tira-me a vida,
pois me é melhor morrer do que viver.
Mas que história bizarra.
Uma história em que nenhum personagem faz o que você espera
que eles façam. O que levanta alguns questionamentos como: Por que essa
história permanece? O que faz as pessoas contarem essa história, acharem
relevante e preservá-la?
Em primeiro lugar, essa história é sobre um homem, mas
trata-se de uma nação. Jonas não quer ir a Nínive porque os assírios tinham
tratado os israelitas horrivelmente. Essa história está fazendo a pergunta:
Será que Jonas pode perdoar os assírios?
Que é: Será que Israel pode perdoar a Assíria?
Bom, a conclusão é que o seu inimigo pode ser mais aberto
ao amor de Deus do que você.
E Jonas está com raiva no final. Com raiva da misericórdia,
do perdão e do amor de Deus.
Porque, convenhamos, nesse caso, é bem irritante.
Mas isso nos leva a um tema maior. Israel foi chamado para
ser luz do mundo, para mostrar o amor redentor de Deus ao mundo (Gn 12).
E eles estavam há anos-luz disso.
Há uma pergunta então que permanece na história de Jonas:
Você pode perdoar o seu pior inimigo e ser um canal através
do qual o amor de Deus fluirá em benefício dele?
E isso é mais sobrenatural do que o grande peixe engolir
Jonas, ele permanecer lá por 3 dias e ser vomitado em seu destino. Esse também
não é o ponto.
É uma pergunta para Jonas, mas é uma pergunta para Israel.
É por isso que o livro não acaba com uma conclusão, ou com
um julgamento, ou com uma explicação do que Jonas faz a seguir.
O livro acaba com uma pergunta que Deus tem
para Jonas:
Não deveria eu ter compaixão dessa grande cidade?
É uma pergunta para Jonas, mas também para toda audiência.
E o autor da pergunta sabe que eles querem responder:
Não.
0 comentários:
Postar um comentário