Alguns
meses atrás eu estava debatendo com algumas pessoas sobre teologia, e um jovem
se levantou e começou a fazer uma leitura do livro de Romanos e então me
perguntou: “O seu Deus é grande o suficiente para predestinar algumas pessoas
ao inferno por causa da ira divina? ”
Algo
assim. Foi tão estranho quanto parece. Eu vou te dizer como respondi depois,
mas parte de mim considerou perguntar: “Então, que escola bíblica você
frequenta? “
Porque,
normalmente, pessoas muito religiosas fazem perguntas como essa. Sobre quem é
eleito, quem não é, quem está predestinado, quem está dentro ou fora.
Mas,
ok. Por que essas palavras, aparentemente, exclusivistas são usadas? Qual foi a
real intenção? Essas duas palavras foram usadas na bíblia com um propósito tão
bom quanto Deus o é.
Eu
poderia escrever vários pontos sobre isso, falando sobre poucos X muitos, graça,
justiça, juízo, soberania e outros atributos de Deus. Afinal, Deus é poderoso e
precisa ostentar seu poder, não é? Mas não vou fazer isso, pelos menos, não
hoje. Vou me ater às duas palavras centrais da questão: Eleição e
predestinação. Vamos limpar o terreno.
Em
primeiro lugar, eleição. Nas escrituras, a eleição é sempre instrumental. O que
quero dizer com instrumental? Pense em como usamos a palavra eleição: Pessoas votam em alguém para executar determinada tarefa
(Presidente, Líder de classe, etc) por meio de uma eleição. A pessoa que ganha,
o eleito, é eleito para fazer essa tarefa em particular. As pessoas não são eleitas
apenas para serem eleitas, a eleição é para o propósito de fazer alguma coisa.
Agora,
vamos pensar sobre isso em relação à Bíblia. O que a Bíblia diz sobre? Trata-se
de uma tribo de pessoas que têm essa sensação de que são chamados para ser uma
tribo diferente das outras, contrária às outras. Naquela época, as tribos
existiam com o propósito de servirem a si mesmas, para acumular e formar
alianças para autopreservação. Mas esta tribo, esta tribo começa com a história
sobre um homem chamado Abrão, para o qual Deus falou que o mundo inteiro seria
abençoado através dele (E não, na bíblia não existe graça salvífica e não
salvífica, ou amor salvífico e não salvífico. Graça é graça, amor é amor, e o
choro é livre). Esta tribo acredita que eles têm uma vocação que se estende
para muito além de si mesmos. Para os confins da terra. Eles são uma tribo que
existe não apenas para o seu próprio bem-estar, mas para o bem-estar de todas
as outras tribos.
Você
consegue ver como eles usaram a palavra eleição? A palavra está organicamente
ligada com missão, propósito, vocação, ação em nome de terceiros, e para o
bem-estar de terceiros.
Eles
estavam sempre sendo fiéis a esse senso de eleição?
Não.
E é isso que você vê nos evangelhos repetidamente e insistentemente: Jesus
chamando sua tribo de volta as suas origens, a sua missão, a sua responsabilidade
divina de ser luz para todo o mundo.
Em
segundo lugar, predestinação. A palavra aparece 6 vezes na Bíblia. Que em grego
é proorizo, que tem origem em duas
outras palavras gregas. A palavra pro que
significa antes, e horizo, que é de
onde pegamos a palavra horizonte, também significando fronteiras, ou
demarcação. Vamos para um versículo em Efésios 1, onde ela é usada:
“Em amor nos predestinou para
sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito
da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos
deu gratuitamente no Amado...”
Uma
observação: O contexto é adoção.
Você
já esteve em um aeroporto e havia uma multidão de pessoas à espera no portão
porque um membro da família, ou amigo, foi para fora para adotar uma criança e
agora ele está prestes a desembarcar, e todos os amigos e parentes se reúnem para
dar as boas-vindas à família e ao seu novo filho? Eles estão segurando
plaquinhas escrito “Bem-vindo”, ou usando camisas personalizadas (como se o bebê
pudesse ler). Tem sempre um amigo filmando. E então o avião pousa, e todos
ficam na expectativa de eles aparecerem no corredor. E quando aparece, tem toda
a vibração do momento, alegria, abraços e celebração.
Adoção.
Esse é o contexto do versículo.
“De
acordo com o bom propósito da sua vontade...”
É
o que Deus faz nesse verso. Ou seja, adotar muitas crianças é o prazer de Deus.
Deus é um buscador de prazeres, e o que traz um prazer imensurável a Ele é
acolher pessoas, tornando-as parte da família, fazendo filhos.
“Para
o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado...”
Paulo
quer que entendamos o propósito de Cristo, que é mostrar-nos o amor que nos
Deus deu livremente, expresso especificamente no amor que Deus tinha por Jesus.
Agora,
uma ilustração. Vamos dizer que sua amiga da faculdade Ana trabalha em uma
cidade longe de onde você mora, e vocês não se veem desde que se formaram. Mas
um dia você descobre que precisa ir naquela cidade por negócios, ou para resolver
algo importante. Você liga para Ana e sugere um encontro, para conversar, se
divertir, se lembrar dos tempos de faculdade. Daí, você manda o endereço do
hotel em que vai ficar e ela diz que trabalha na mesma rua, por que não encontrá-la
no trabalho? O dia chega e você aparece no endereço que ela te deu...
Um
pouco sobre Ana: Ela sempre foi organizada. Completamente. Como ninguém.
Prateleiras bem organizadas, secretaria impecável, roupas devidamente
ajeitadas.
Então,
você anda em direção à porta e Ana está com uma mulher diante de uma mesa,
sentadas, mostrando um papel, e elas parecem estar tendo uma conversa profunda,
a mulher está ouvindo atentamente o que Ana tem a dizer. Ela te vê e pede dois
minutinhos, e você se senta e espera, observando-a. Seja o que for, a mulher
com a qual Ana está falando está absorvendo cada palavra, e ao fim, ela dá um
abraço, se despede e diz que não sabia o que faria se não fosse pela ajuda de
Ana.
Em
seguida, você a abraça e a cumprimenta. E então, pergunta o que estava morrendo
de vontade de perguntar:
“Ana,
o que você faz? ”
Ela,
então, explica que depois da faculdade fez um mestrado, pós-graduação em
trabalho social, e depois foi contratada pelos serviços sociais da cidade. Mas,
ao longo do tempo, ela percebeu que a maioria das pessoas com quem ela
interagia realmente precisava de ajuda para organizar suas vidas, criar
orçamentos, priorizar necessidades, etc. E então, ela percebeu que poderia ajudá-las
nisso. E encontrou um lugar no qual ela poderia trabalhar diretamente nesse
aspecto.
Você
está tão inspirado com essa história que Ana está contando, e você lembra de
como ela era na faculdade, e lembra do rosto da mulher que ela estava ajudando,
e diz:
“Ana,
parece que você estava predestinada a fazer isso...”
Agora,
vamos à palavra que você acabou de dizer, porque ela tem um forte significado. Você
está impressionado com como o jeito de Ana mostrava que ela seria assim. Que
não é um acidente. Que Ana e os tipos de habilidades que ela tem, e o trabalho
que ela está fazendo não são aleatórios ou inúteis. Mas de alguma forma muito
difícil de descrever mostra como o universo funciona.
Ufa.
Tudo
o que Ana era e mostrava ser, levava-a a este exato momento. Dá profundidade ao
que ela está fazendo no presente. Você coloca o trabalho dela no contexto de
toda sua vida, nomeando a trajetória que viu em primeiros vislumbres na
faculdade, mas agora vê em sua plenitude, e é lindo.
É
assim que os primeiros cristãos estavam tentando explicar essa nova coisa extraordinária
que estava acontecendo no coração das pessoas. Algo diferente e novo. Mas que
estava sendo cultivado neles anteriormente. Algo que antes era visto apenas
como primeiros vislumbres, mas agora é pleno e lindo. Algo como viver através
do Cristo ressuscitado. Você consegue ver como eles usaram essa linguagem e
como ela implica em um sentido de intenção e propósito desde os tempos
anteriores?
Tudo
que eu disse até aqui foi para chegar à seguinte conclusão:
As pessoas
frequentemente usam essas palavras para limitar as ações de Deus, mas na Bíblia
elas são usadas para expandir nossa compreensão do que Deus está fazendo.
O
Deus que dá livremente, que nos chama de filho pois isso o traz prazer. Pessoas
que têm esse senso de eleição, e por isso carregam essa responsabilidade e esse
chamado de viver em prol de outros. Essas palavras são frequentemente e conscientemente
usadas com o objetivo de mostrar o desejo expansivo, e não introverso, de Deus
de resgatar, redimir e restaurar tudo e todos.
(By
the way, se alguém usa Romanos 9-11 ao discutir sobre se uns são predestinados
e outros não, deveria ver no fim da seção, em 11:25 que diz que todo o Israel
deverá ser salvo.
Todo.
O. Israel. Deverá. Ser. Salvo.
Se
a passagem é sobre um Deus que escolhe ao seu bel prazer quem deve ou não ser
salvo, por que no final das contas todos deverão ser? Booom).
Ah,
e aquele cara que se levantou e fez aquela pergunta?
A
minha resposta foi:
Não.
Seu texto é ótimo!
ResponderExcluirConheça meu blog http://modadeneve.blogspot.com.br/2015/08/ola-youtube.html
Beijos
Olá!
ExcluirVou sim. :)